domingo, 30 de maio de 2010

Incorporad@s

O maior e mais belo poder humano é criar. Esse gigante que anda meio adormecido e precisa ser acordado. Cabe a todos nós a coragem de mergulhar em nossas mais essenciais verdades de sabermos quem somos e para onde vamos. Em tempos de apocalípticas e globais destruições, mergulhar significa parar e pensar. Parar, pensar e sentir. Renascendo no corpo compartilhado, em permanente reverência, oculto e sem idade e já carregando o mundo nas costas, de cabeça para baixo. Retomemos o mergulho e a experiência de nascer. Mergulhemos na lentidão azul das águas responsáveis pelas mais violentas transformações e no silêncio ancestral das rochas. Duas forças femininas que parecem segredar: “...já fui mulher eu sei, já fui mulher eu sei...” A criação tem um tempo caprichoso como o tempo vagamundo da fotografia. Tempo para as pupilas dilatarem no escuro e verem a riqueza intermediária entre luz e não luz, pouca luz e quase não luz, até que reste a atmosfera e chegue o momento do instante decisivo que nos liberta do tempo e nos solta do espaço “terra firme”. Como descobrirmos uma memória sem idade, revelada em muitas vidas e formas e geradora de corpos únicos, vastos e transmutantes. A memória do tempo vivido, repleta de cicatrizes da história, da experiência, do próprio tempo. São as mulheres as tutoras do mistério fundante do ser, que salvaguardam em seus próprios corpos a memória do mundo, o princípio da vida. Corpos tantas vezes negligenciados e violentados por práticas, olhares e imaginários corrompidos pelo controle e por vícios de autosatisfação. Desperdiça-se a riqueza, a história e o poder transformador das femininas formas e conteúdos. O projeto Incorpos nasceu assim. Parando o tempo narrativo e imergindo em memória que gesta futuro, percebo que toda mulher é, por definição, incorporada por corpos que desafiam os limites da forma explodindo em expressão, força e beleza. E parei, pensei e senti. Reverenciei a essa experiência, a essas mulheres, às crianças, às famílias - e lá se vão cinco anos. Percebo agora o quanto a fotografia é um corpo de muitos corpos – ações, identidades, representações. Um corpo incorporado, buscante do enverdadeiramento da ação e do pensamento, desafiadora de seu mais físico limite corporal, a começar pela superação primeira do visível e do que se vê. Adriana Medeiros Rio de Janeiro, 30 de abril de 2010.

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Queridos amigos e amigas,

é com muita alegria que lhes convido para a exposição incorpos, onde exponho um ensaio sobre a beleza no nascimento. Há cinco anos acompanhando mulheres e famílias que me envolveram na experiência mais profunda de transformação, fazendo rever ideias sobre força, beleza, sobre as relações e o tempo. Sobre família, natureza e cuidado.
A exposição não vem sozinha! Ao longo desse percurso, muito me ensinou a conhecer pessoas e experiências abertas a um novo olhar sobre a vida, o pensamento, o cuidado.
A exposição vem acompanhada por muitos que em suas áreas específicas lutam, contribuem, constroem um mundo de direitos humanos e respeito à diversidade, de direito à informação, à beleza, à qualidade de vida e à escolha!
Sejam bem-vindos, chamem suas famílias, seus amigos.
Assim começa uma grande história!

Adriana Medeiros